JUPYRA COM CLICHÊS E CAVALLERIA COM MAFIOSOS NO THEATRO MUNICIPAL DE SÃO PAULO. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

  

Após umas 300 polêmicas da direção o Theatro Municipal de São Paulo apresentou no dia 15 de Outubro duas óperas do período verista. Jupyra de Antônio Francisco Braga e a mundialmente famosa Cavalleria Rusticana de Pietro Mascagni. Essa geralmente é apresentada junto da ópera Pagliacci de Leoncavallo. A sua substituição por Jupyra é interessante, uma curiosidade musical que combina com o período histórico.
   O que não combina é a qualidade da ópera, Jupyra tem um libreto fraco com ação lenta e sem a menor dinâmica. Trinta minutos iniciais se passam e quase nada acontece e no final a ópera acaba por falta de personagens, morrem quase todos. A música de Antônio Francisco Braga não tem uma grande ária, carece de melodias impactantes e muitas vezes se mostra banal e sem inspiração.
   A montagem apresentada abusa dos clichês do índio e da floresta tropical do Brasil colonial. O cenário de Juan Gillermo Nova é interessante, com belas cores e mato por todos os lados. A luz de Pascal Merat realçou a beleza do cenário dando-lhe suntuosidade, os figurinos de Carla Galleri estiveram adaptados ao enredo. A direção de Pier Francesco Maestrini tem soluções razoáveis e tenta dar dinâmica a um enredo engessado com consegue saídas criativas. Não vou cansar você leitor descrevendo-as. 
Cena de Jupyra, foto Internet
   Para encarar o papel de Jupyra escalaram o soprano Angeles Blancas Gulin, a moça mostrou uma voz com timbre escuro e agudos gritados em diversas passagens. Quebrou algumas notas e mostrou-se muitas vezes agressiva. Marcello Vanucci é um tenor que sempre apresenta enorme qualidade vocal e dessa vez não foi diferente, seus agudos brilhantes e seu timbre agradável trouxe solidez ao personagem Carlito. A pequena participação de Marina Considera serviu para provar que a moça tem um futuro como cantora, seu timbre é bonito e sua técnica é sólida. A bela moça pecou no fraseado, mas isso é de fácil correção. Angelo Vecchia cantou de forma convencional e não mostrou nada mais que um barítono comum, no coral do teatro tem muitos que cantam melhor que ele.
   Após um longo intervalo, mas longo mesmo onde o público começa a bater palmas pedindo o início da apresentação tivemos a mais famosa ópera de Mascagni. A Cavalleria Rusticana ambientada no século XX onde desfilam mafiosos parecidos com os capangas de Al Capone foi uma saída interessante que não prejudicou o enredo. Os cenários, figurinos e luz estiveram a contento e harmonizaram com as ideias do diretor.
   Angeles Blancas Gulin se transformou após o intervalo, sua voz esteve escura, possante e adequada à personagem. Densidade forte no timbre que capta a essência do Verismo. Atuou e cantou de maneira primorosa. Fernando Portari é um tenor com sólida carreira internacional, cantou um Turiddu de forma mágica, sua voz dispara agudos brilhantes e emotivos. Seu timbre tem um colorido mágico que sempre convence.
    O pequeno papel de Lola exige que a cantora mostre em um curto espaço de tempo todo o caráter da personagem. Mulher que traí o marido e é cínica pacas. Adriana Clis consegue esse feito, sua voz escura com agudos potentes, graves quentes e unidos a uma interpretação correta mostraram quem é Lola. Sua presença de palco é exuberante e sedutora, uma Lola na medida certa. Angelo Del Vecchia voltou do intervalo da mesma maneira , convencional e sem pegada.
   A Orquestra Sinfônica Municipal esteve com sonoridade e volumes corretos. Victor Hugo Toro fez um bom trabalho com os músicos. Destaque de sempre é o Coral Lírico e dessa vez junto com o Coral Paulistano, as vozes estiveram em ponto de bala. Junções, fusões e extinções que a atual diretoria promove não abalaram os coristas, estes mostraram que cantam muito bem e sempre estiveram equilibrados em todas as vozes.

Ali Hassan Ayache  

Comentários

  1. Marcelo Lopes Pereira16 de outubro de 2013 às 15:04

    Acredito que devido a "pobreza" musical da ópera Jupyra a orquestra parecia um pouco desmotivada, depois do intervalo com a Cavalleria aí sim a Orquestra mostrou que está evoluindo e está no caminho certo, vamos torcer por um 2014 cheio de concertos até porque teremos um grande hiato da OSESP que poderá ser muito bem suprimido pela Orquestra Sinfônica Municipal

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas