WERTHER PARA BARÍTONO NO THEATRO SÃO PEDRO/SP. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA E BALLET


  
   Massenet é compositor que tem características únicas em sua escrita orquestral. Influenciado pela escola francesa tem nas melodias a força emotiva de sua composição. Muitos acusam Massenet de wagneriano, ele utiliza  o recurso do motivo condutor (leitmotiv) em diversas passagens. A música de Massenet pode ser, as vezes, açucarada demais. As suas melodias fixam na mente e provocam diversos estados de emoção no público.
Neiva e Francesconi -Foto Internet
   Os Sofrimentos do Jovem Werther de Goethe é a obra que inspira a ópera, escrita em cartas a um narrador temos nela as características iniciais do romantismo: o amor e a morte. Outra característica de Massenet é a obra intimista, esta presente com mais força no Werther.  Tudo acontece em pequenos espaços. A versão do Theatro São Pedro/SP dirigida por André Heller-Lopes mostra o lado intimista da ópera e realça a escrita de Massenet. Transportada para meados do século XX leva ao verdadeiro amor entre os personagens e a morte como única solução. Werther está em outra dimensão no final da ópera, morto na cadeira e de costas para o público dialoga com Charlotte grávida através de um Werther vestido da época de Goethe.
Leonardo Neiva -barítono, foto internet.
   A versão para barítono cantada pela primeira vez no Brasil, nem sabia que ela existia, mostra um Werther impactante e uma escrita orquestral robusta. Leonardo Neiva deu dramaticidade ao personagem, voz de barítono com fartura de agudos. Neiva sofre por amor e morre por ele em duas dimensões, terrena e passada. Mostra nuances do personagem que são invisíveis com tenor, mais incisivo , dramático e com maior força. A maioria prefere os belos agudos do tenor, assistir a versão para barítono modifica completamente a dramaticidade musical.
   O restante do elenco apresenta a mesma qualidade vocal da estreia . Luisa Francesconi continua soberba, seu desafio na ópera francesa foi vencido. Especialista em óperas italianas a moça mostrou que a música francesa cai bem em sua voz. A orquestração do maestro Malheiro reflete as sutilezas da partitura. O coro de guris se sai melhor, com vozes mais audíveis e o soprano Gabriela Pacce tem  bela voz lírica.

   Cena de Werther, foto internet
   O Theatro São Pedro fecha com chave de ouro a programação de óperas em 2012. Espero que 2013 tenhamos mais títulos com a mesma qualidade apresentada nesse ano. Seria interessante a direção do teatro buscar montagens de outras casas, como Manaus e Belém que possuem o mesmo tamanho de palco do teatro paulistano, mas com plateias maiores. Teatro pequeno e  criatividade enorme.

Ali Hassan Ayache
     

Comentários

  1. Marcelo Lopes Pereira5 de dezembro de 2012 às 13:18

    Ali, vimos a mesma apresentação para barítono e realmente numa mesma semana ver Macbeth e Wherter é algo histórico num país como O Brasil e o melhor de tudo, ambas as óperas foram muito bem cantadas e ambas as orquestras cumpriram bem o seu papel, o que mostra que quanto mais óperas e concertos melhor uma orquestra fica.

    Em suma fiquei muito feliz com a semana musical que tive, incluindo os concertos da Sala São Paulo que fui sexta, sábado e domingo.

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  2. Na primeira metade do séc. XIX era comum os compositores escreverem ou reescreverem operas dedicadas a um grande solista. Por exemplo, Il Puritani tem duas verções: A que o tenor é dedicado a Giovanni Battista Rubini, e que a soprano é dedicada a Maria Malibran. Norma do mesmo autor foi dedicada a Giuditta Pasta, e o compositor morreu na época em que escrevia a verção para Rubini de Pollioni.
    É desta época as duas verções de Werther.

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