WAGNER DE NÍVEL INTERNACIONAL : O CREPÚSCULO DOS DEUSES NO THEATRO MUNICIPAL DE SÃO PAULO. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

   Cena de O Crepúsculo dos Deuses-Foto Internet

   Assistir a ópera O Crepúsculo dos Deuses de Richard Wagner é uma verdadeira maratona, você tem que ficar seis horas no teatro . Em tempos de internet e redes sociais isso é uma eternidade, a surpresa foi o público, não arredou o pé até o fim da récita. Outra encrenca nessa ópera é o público entendê-la. Sabemos que é a quarta parte de uma tetralogia e os genais dirigentes do teatro resolveram fazer a tetralogia fora de ordem, começaram por A Valquíria (segunda parte ) e agora montam a quarta. Destaque para um casal, ele interessadíssimo na ópera e a loira com cara de poucos amigos. A moça descobriu que ópera dá um sono danado, tirou uma pestana em todo o segundo e terceiro ato, será que a cor do cabelo influencia em algo? 
   Mais uma vez os dirigentes do teatro erraram na conta, faltaram programas para muitos espectadores, eu fiquei sem o meu. Já aconteceu na ópera A Valquíria e aconteceu de novo nesse Götterdämmerung. Felizmente o grande teatro paulistano acertou mais que errou, ninguém lembrou a falta do programa quando subiu a cortina.
Cena de O Crepúsculo dos Deuses-Foto Internet

   A Orquestra Sinfônica Municipal , nas mãos do maestro Luiz Fernando Malheiro começou arrastada, lenta. Nesse ritmo a ópera duraria umas sete horas, após a primeira cena o maestro acertou a mão. Mostrou um Wagner potente nas partes sinfônicas e diminuiu o volume nas partes cantadas. Uma regência correta, cheia de belas harmonias e com o brilho da música wagneriana. O maestro mostra mais uma vez que conhece Wagner a fundo.
   O elenco esteve equilibrado, nivelado para cima, muitas vezes soberbo. Eliane Coelho mostrou uma voz de timbre escuro e encorpado . Sua Brünnhilde é voz e pura interpretação, vestiu a camisa da personagem e empolgou. Sua participação final é deveras inesquecível, mostrou força na voz dando credibilidade a personagem e ainda sustentou as notas no limite. Grande soprano.
   O Siegfried de John Dazsak tem agudos interessantes , carece de médios e graves. Fez um Sigfried correto, falta o timbre e a pegada que todo o tenor wagneriano deve ter. Sua voz não tem a potência, a emissão e a maturidade que a ópera de Wagner exige, é uniforme, estática e algumas vezes metálica. Denise de Freitas mais uma vez arrasou , como Waltraute foi soberba, mostra que está em plena forma vocal. Sua voz mostra diversas nuances da personagem e coloridos que só se ouvem ao vivo. CDs e DVDs nem chegam perto.

Cena de O Crepúsculo dos Deuses-Foto Internet
   Outra que está em grande forma é Claudia Riccittelli, interpretação magistral de Gutrune. Sua voz tem belo timbre, matizada, de ouro. Mostrou paixão e ódio quando necessário e exibiu força nos agudos . Soprano correta em todas as suas participações e com qualidade vocal em todos os registros. Claudia Riccittelli jura de pé junto que não lê o que os críticos escrevem , é uma pena, vai ficar sem ler as belas e poéticas palavras que escrevi sobre ela. Quem sabe o maridão Martin da o recado.
  O Gunther de Leonardo Neiva mostra força nos graves, com timbre maduro e estável. Uma voz que evolui a cada apresentação e em boa forma vocal. Interpreta um Gunther mais que interesseiro e com grandes atributos cênicos. Gregory Reinhart mostra graves de baixo puro como Hagen, voz cavernosa e marcante.
Cena de O Crepúsculo dos Deuses-Foto Internet

   A direção cênica comandada pelo experiente André Heller-Lopes acerta na concepção. Impossível descrever em palavras as idéias originais do diretor. A primeira cena é um primor , jogo de luz e cores combinam e se harmonizam . Soluções atemporais unidas a cenários sóbrios e figurinos corretos. Luz que participa e faz parte da ação, projeção de imagens que leva a reflexão. Diversos pontos da concepção fazem um elo de ligação com a ópera A Valquíria dirigida pelo mesmo diretor em 2011.
   Sua leitura de Wagner coloca o amor em primeiro plano , leva o espectador a pensar e consegue agilidade em uma obra que é estática por natureza. Sua cena final resume a vitória do amor sobre tudo. Todos se beijam , temos homens com mulheres, mulheres com mulheres e homens com homens. O amor vence tudo , até o preconceito.

   Ali Hassan Ayache
     
  
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Comentários

  1. Fantástico, Ali, é a maturidade da ópera. Seis horas dentro do teatro é de derrubar a gente, entretanto.

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  2. Marcelo Lopes Pereira13 de agosto de 2012 às 14:09

    Ontem estive sentado na primeira fila e uma ópera de Wagner é no mínimo uma experiência magnífica. A música é tão envolvente que o "tempo wagneriano" parece passar de uma forma muito rápida. A demora só fora sentida durante os intervalos que foram um pouco longos mas a música e a arte absoluta de Wagner são insuperáveis. Algumas obeservações que o Ali colocou ela já havia me adiantado ontem, no entanto em relação ao Siegfried sob meu ponto de vista leigo faltou à ele passar a imagem de "herói inabalável", isso devido a sua voz "muito linear" para o papel.
    Espero para o ano que vem pelo menos a montagem de "Sigfried" ou Rheingold, porém o fato da ordem não ser seguida é lamentável, outro ponto as quatro óperas do anel deveriam ser encenadas na mesma temporada para que todos pudéssemos apreciar esse magnífico ápice da ÓPERA e cultura Universal.

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